sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O pior é começar...

O que me ensinaram as mulheres da minha família:

- Que é melhor ser alegre que ser triste.

- Que os filhos não são nossos porque é "Deus quem nos empresta"

- Que não há dor maior do "que enterrar um filho".

-Que não há alegria melhor do que nascer um filho.

-Que as dores de parto são "abençoadas".

- Que os filhos são sempre bem vindos. Pouco importa o estado em que venham.

- Que as mães perdoam tudo.

- Que as mães exigem mais.

- Que até Deus, quando quis ser PAI, teve de engravidar uma mulher.

- Que se um homem nos bate, "mesmo que seja o pai dos nossos filhos", temos que nos proteger.

- Que uma panela de sopa mata a fome a muita gente.

- Que os bolos se batem sempre para o mesmo lado.

-Que "enquanto há pão não se comem bolos".

- Que na mesa cabe sempre mais um, e, em casa, há sempre lugar para mais dois.

- Que o único trabalho doméstico a que os outros dão valor é cozinhar.

- Que os homens quando cozinham desarrumam tudo.

- Que "loiça lavada, cozinha arrumada".

- Que o cacau quente conforta qualquer dor.

- Que o "lucro que dão as galinhas é para os alfinetes das mulheres".

- Que na terra, mesmo quando dela nasce o pão e o trabalho é duro, há sempre um canto para as flores. É por isso que existem as papoilas.

- Que na horta "não devem mexer mãos de homem".

- Que as fêmeas quando estão a parir gostam que lhes "falem baixo".

- Que os animais são animais.

- Que se pode chorar quando morrem os "nossos" gatos e os "nossos" cães.

- Que não se pode chorar quando se matam os coelhos.

- Que chorar nunca resolveu nada.

- Que chorar alivia e faz "bem".

-Que, se nos dói a cabeça, é "bom sinal". Temos cabeça. E é nossa.

- Que os homens são umas crianças grandes.

- Que quando se joga "à sueca" temos de deixar os homens ganhar.

-Que os homens "não gostam quando lemos livros".

-Que se tivermos um livro nunca estamos sós.

- Que as mulheres não percebem nada de futebol.

- Que as mulheres não bebem vinho. Alguém tem de se manter "são".

- Que o sexo é um "serviço" que se presta aos homens. Quanto melhor o serviço mais
"bem servidas"
ficamos.

- Que o "período" é o que nos torna "MULHER". Que é também um "segredo" que não se partilha com os primos (homens).

- Que deixar de ter o "período" é uma "bênção" e não um castigo . Só "custa" porque "deixamos de ser mulheres".

- Que ninguém pode obrigar-nos a fazer o que não queremos.

- Que temos de bastar-nos a nós próprias.

- Que é uma vergonha "viver à custa" de alguém.

- Que não existem problemas, existem "situações".

-Que temos de fazer "O RASTREIO DO CANCRO".

-Que, no fim, tudo corre bem.

- Que por vezes é melhor estar calada.

- Que uma festa na cabeça evita muitas discussões.

- Que a roupa interior deve ser sempre limpa.

- Que a cama deve ficar feita quando se sai de casa.

- Que uma mulher não tem olhos nem ouvidos.

- Que as meias não podem ter buracos.

- Que "se só tenho uns pés não preciso de tantos sapatos".

- Que "um corpo tão pequeno não precisa de tanta roupa".

- Que não temos "destino".

- Que se pode fazer todas as escolhas, porque, entre nós, "não se vira a cara a ninguém".

- Que temos de viver com as escolhas que fazemos.

- Que ninguém faz o nosso trabalho por nós.

- Que os favores não se pagam. Agradecem-se.

-Que as mulheres bonitas são a melhor companhia para as feias.

-Que a melhor e a mais bonita de todas as orações é a "AVÉ MARIA" e não o "PAI NOSSO".

Isto foi o que me ensinaram, quanto ao que aprendi...tem de ficar para outra vez.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A minha avó Maria

Como não tenho muito tempo livre e este blog nasceu para ser uma espécie de "diário", um desabafo, uma reflexão, que apesar de ser pública, não esperava que fosse descoberta, fiquei muito surpreendida por haver um comentário num dos meus textos.
A minha resposta fez-me pensar na minha avó Maria.
Era a mãe da minha mãe.
Morreu com 68 anos.
A minha mãe, que tem 75, costuma dizer-me que já pode morrer pois já viveu mais do que a sua própria mãe, sobretudo porque o ano passado teve cancro de mama.
A minha mãe é filha de "pai incógnito".
Era o que constava na sua certidão de nascimento.
"Pai incógnito".
Mentira!!
Na aldeia toda a gente sabia quem era o pai da minha mãe.
Era o namorado da minha avó.
A minha avó era "uma mulher séria". Daquelas que são "enganadas".
E ela foi-o.
Acreditou nas promessas de casamento do namorado de muitos anos.
Só que ele, assim que viu que ela tinha um filho na barriga, fugiu para LISBOA.
Terra mítica!!
E assim, a minha avó, esperou que ele voltasse e se casasse...e desse o seu nome ao filho.
Ele nunca voltou. Por lá se casou. E por lá teve filhos.
A minha avó ficou na aldeia. Os pais do namorado, os meus bisavós, honra lhes seja feita, trataram-na como uma "nora".
Quando a minha mãe nasceu foi mais uma neta que tiveram.
A minha mãe ia à casa dos seus avós, brincava com os seus primos e tinha o carinho das suas tias.
Depois, a minha avó casou-se.
Com outro homem.
Era um homem extraordinário.
É esse homem que é o meu AVÔ.
Diga-se que tudo isto aconteceu nos tempos longínquos dos anos 30 do século XX.
Que quem mandava era o Salazar.
E que a honra dos homens estava entre as pernas das mulheres.
O meu avô, ainda assim, casou-se com a minha avó.
E fez outra coisa: "perfilhou" a minha mãe!
Deu-lhe o seu nome.
A minha mãe passou a ser "irmã inteira" em vez de "meia irmã" dos seus irmãos.
Claro que isto tudo posso ser eu a romancear uma história banal.
Mas acho que não.
Os meus avós dormiam sempre de mãos dadas.
O pai (biológico) da minha mãe pediu-lhe para ela lhe chamar "pai" quando o visse na rua.
A minha mãe nunca o fez.
Disse-lhe que ele não era o seu pai.
Não chorou no seu funeral.
Nunca quis falar com os seus outros irmãos.
Como a genética é tramada, eu sou o "retrato" desse meu avô.
Pelo menos é o que me dizem as primas velhotas que o conheceram.
E eu sei que fui a neta favorita da minha avó.
Que isto do amor é muito mais complicado do que parece à primeira vista.