quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A minha avó Maria

Como não tenho muito tempo livre e este blog nasceu para ser uma espécie de "diário", um desabafo, uma reflexão, que apesar de ser pública, não esperava que fosse descoberta, fiquei muito surpreendida por haver um comentário num dos meus textos.
A minha resposta fez-me pensar na minha avó Maria.
Era a mãe da minha mãe.
Morreu com 68 anos.
A minha mãe, que tem 75, costuma dizer-me que já pode morrer pois já viveu mais do que a sua própria mãe, sobretudo porque o ano passado teve cancro de mama.
A minha mãe é filha de "pai incógnito".
Era o que constava na sua certidão de nascimento.
"Pai incógnito".
Mentira!!
Na aldeia toda a gente sabia quem era o pai da minha mãe.
Era o namorado da minha avó.
A minha avó era "uma mulher séria". Daquelas que são "enganadas".
E ela foi-o.
Acreditou nas promessas de casamento do namorado de muitos anos.
Só que ele, assim que viu que ela tinha um filho na barriga, fugiu para LISBOA.
Terra mítica!!
E assim, a minha avó, esperou que ele voltasse e se casasse...e desse o seu nome ao filho.
Ele nunca voltou. Por lá se casou. E por lá teve filhos.
A minha avó ficou na aldeia. Os pais do namorado, os meus bisavós, honra lhes seja feita, trataram-na como uma "nora".
Quando a minha mãe nasceu foi mais uma neta que tiveram.
A minha mãe ia à casa dos seus avós, brincava com os seus primos e tinha o carinho das suas tias.
Depois, a minha avó casou-se.
Com outro homem.
Era um homem extraordinário.
É esse homem que é o meu AVÔ.
Diga-se que tudo isto aconteceu nos tempos longínquos dos anos 30 do século XX.
Que quem mandava era o Salazar.
E que a honra dos homens estava entre as pernas das mulheres.
O meu avô, ainda assim, casou-se com a minha avó.
E fez outra coisa: "perfilhou" a minha mãe!
Deu-lhe o seu nome.
A minha mãe passou a ser "irmã inteira" em vez de "meia irmã" dos seus irmãos.
Claro que isto tudo posso ser eu a romancear uma história banal.
Mas acho que não.
Os meus avós dormiam sempre de mãos dadas.
O pai (biológico) da minha mãe pediu-lhe para ela lhe chamar "pai" quando o visse na rua.
A minha mãe nunca o fez.
Disse-lhe que ele não era o seu pai.
Não chorou no seu funeral.
Nunca quis falar com os seus outros irmãos.
Como a genética é tramada, eu sou o "retrato" desse meu avô.
Pelo menos é o que me dizem as primas velhotas que o conheceram.
E eu sei que fui a neta favorita da minha avó.
Que isto do amor é muito mais complicado do que parece à primeira vista.








3 comentários:

Flávia Gobbi disse...

Passei por aqui.
Flávia (ttutu)
flavia@ttutu.com.br

Eu disse...

Descobri você e adorei.
Eu tive uma bisavó Maria, que veio de Portugal "roubada" pelo meu avô (assim me contaram). Não a conheci.
Adoro essas histórias do passado.

Até mais

camila disse...

que linda história!