terça-feira, 13 de outubro de 2009

As minhas eleições

Redacção

Nas minhas eleições comi sempre frango assado.
Na maior parte das vezes não estava mau.
Nas outras era mais pó.

Nas minhas eleições beijei algumas crianças.
Na maior parte das vezes apertei as mãos de velhos.
Quase sempre foi bom.

Nas minhas eleições ouvi muitas queixas.
Na maior parte das vezes dos velhos.
As crianças o que queriam era brincar.

Na minhas eleições andei horas de carro.
Fiquei com o rabo dormente.
Na maior parte das vezes foi divertido.

Nas minhas eleições distribuí panfletos.
Na maior parte das vezes pediram-me:
Canetas;
Bonés;
T. shirts;
Porta-chaves;

Não tinha.

Nas minhas eleições (dizem) que se "uniu" o "partido".
O que não deixa de ser engraçado:
"Partido - Unido".

Nas minhas eleições foram mais buzinas.
E balões.

Nas minhas eleições fiquei "pendurada" por todo o lado.
O que foi (demasiado) embaraçoso.

Nas minhas eleições conheci um ministro.
Muito charmoso.

Nas minhas eleições os meus adversários eram amigos.
Recebi as "flores laranja" que tinham para dar.
E beijos.
E abraços.

Nas minhas eleições troquei "cromos".
A brincar.

Nas minhas eleições conheci o meu Concelho.
Muito mais que a minha Cidade Branca.
Muito mais que o Mosteiro.

Nas minhas eleições todas as pessoas me bateram nas costas.
Doeu.

Nas minhas eleições concorri pelo partido errado.
Com o coração do lado certo.

E.

Perdi.






quinta-feira, 9 de julho de 2009

Histórias

A.

Mesma voz.

Sentida.

Redondas histórias.

Finais.

In.
Felizes.

sábado, 13 de junho de 2009

Nome II




Água.

Única.
Liberdade.

Consentida.

A quem.
Não voa.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Nome









Contaram-me.
O teu nome.
De água.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

PERCAS/PERDAS

Percas/Ganhos

Perdas/Achados

Percas/Peixes

Peixes/Gatos

Gatos/Tipos

Tipos/Gajos

A Cara/O Cara

Boleia/Carona

Pingolim/Matraquilho

Terno/Fato

Terno/Acto

Fato/Fato

Correto?/Correcto?

Correções?/Correcções?

Dicionário/Prontuário

Editor?/Revisor?

Crítico/Criticador

Criadora?/Construtora?

Mostra-ME os TEUS caminhos.

A Língua.
Minha mãe.

Permite-me:

Percas.

Vejo as suas barbatanas à transparência.

Nadam no MEU aquário.

Ganhos MEUS.

PERDAS tuas.

Beijos

PERCA

1º Pessoa singular presente conjuntivo de PERDER
3º Pessoa singular imp. de PERDER
3º Pessoa singular presente conjuntivo de PERDER

do latim perca< do grego PERKE

Forma verbal

s.f.
- ACTO OU EFEITO DE PERDER
- DANO
- PERDA
- PREJUÍZO

in Dicionário da Língua Portuguesa.

Aconselho a leitura a quem gosta de fazer CORRECÇÕES.
E NÃO CORREÇÕES.

CORRECTO.
NÃO CORRETO.

SIM.
Tenho mau feitio.

As percas, tal como os ganhos, são minhas/meus.

PERDER - VERBO - ACÇÃO.
PERDI.
PERCA.

Quando perdo (isto nem existe - nem sequer é verbo) é um par de brincos.

Quando PERCO.

Não é, com certeza, um peixe.

Fiquem bem.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Percas/Ganhos

Perca:
Quando tinha 9 anos morreu a minha avó.
Ganho:
1º - Uma Dor que não sabia existir.
2º -Saber da existência do Céu.
3º - Acreditar que os que vão à frente ficam LÁ a esperar por nós.

Perca:
Quando tinha 13 anos morreu o meu melhor amigo.
Ganho:
1º -Nenhum.
2º - Nenhum porque (ainda) não consigo falar disso.
3º - Saber que sou mortal.
4º - Duvidar da existência de Deus.

Perca:
Quando tinha 14 anos o meu pai teve um AVC.
Ganho:
1º - Aprender a tomar conta de mim.
2º - Aprender a só contar comigo.
3º - Aprender a ter OUTRO pai que NÃO o meu.

Perca:
Quando tinha 32 anos morreu o filho do marido de uma amiga.
Ganho:
1º - O que ele me disse depois de uma noite em que só se ouviu o silêncio: " O sol nasceu".
Ganho:
Incrédulo.
"O sol nasceu".

Perca:
Quando tinha 35 anos morreram, no mesmo dia, um tio muito querido, e, um "miúdo" cuja primeira palavra foi o meu nome.
Antes de "papá" e "mamã".
Ganho:
1º - Aceitar que Deus saberá.

Perca:
Quando tinha 39 anos uma amiga suicidou-se.
Ganho:
1º - Saber que por muito que se ame os outros não chega. Nem o MAIOR amor nos salva.
2º- Temos a obrigação de nos amar.

Perca:
No ano dos meus 40 anos morreu o meu sogro.
Ganho:
1º - A minha sobrinha.
Porque acredito que Deus me fez uma "troca".

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Cidade

Ao Sábado.
A Cidade é branca.
Os pombos dormem.
E os rebanhos não se vêm.

É uma cidade antiga.
Com restos de esplendores passados.

Conheço-lhe o corpo como meu.
Pequenas rugas espalhadas.

Musgos verdes.

A luz da quase madrugada a lamber-lhe os cantos.

Brilha no fim da chuva.
Com o frio da manhã nas pedras.

Cidade BELA.
Tão antiga como os tempos.

In principio erat verbum et verbum erat quad Deum et Deum erat verbum.

No princípio era o Verbo e Verbo era Deus e Deus era o Verbo.

Não.

O Livro Sagrado está errado.

No princípio eras tu.

Cidade.

Minha.

Linda.
Bela.
Azul.
Luminosa.
Meiga.
Colo de mãe.

Cidade.

Que te escondes e te deixas ver.

Só aos Sábados.

Quando os pombos dormem.
E a alma dói.







sábado, 10 de janeiro de 2009

Única

Sou filha única.
Por culpa e Graça dos meus pais.

Tive um irmão que morreu antes de eu ter nascido.
Tive mais dois irmãos que morreram antes deles próprios terem nascido.

Suponho que fui uma espécie de milagre.
Sei, por isso, coisas que, por pudor, não se dizem.
Sei onde e como fui concebida.
Que era Verão.
Que os meus pais tinham ido à praia.
Sei que se algum dos meus irmãos tivesse sobrevivido, eu não teria nascido.
A minha mãe só queria um filho.
Sei porque ela me contou. Sei o porquê.

Não sei o que é ter irmãos.
Não sei o que é ser diferente do que sou.
Sei que sou diferente do que aquilo que seria se tivesse um irmão.

Tenho o AMOR único, incondicional, insubstituível, imenso e intenso dos meus pais a cobrir-me.
Tenho o AMOR único, incondicional, insubstituível, imenso e intenso dos meus pais a pesar-me.

Nunca tive dúvidas sobre esse amor. Nunca tive de lutar por ele.
Era-me servido todos os dias.
Era-me cobrado todos os dias.

No tempo em que nasci, todos os meninos da escola tinham irmãos.
O meu pai, às escondidas, dizia-me: "Não queiras irmãos, filha, não sejas palerma. Vão estragar as tuas coisas ".
A minha mãe era ainda mais "feroz": "Se tiveres irmãos, não podes estudar".
Desta maneira, quando alguém, na família ou fora dela, me perguntava: "Então, não queres um irmãozinho?"
Eu respondia: "NÃO".
Alto e bom som. Determinada e sem medo.

Nunca quis ter um irmãozinho para brincar.
Para brincar tinha os primos e as primas.
Numa família grande, rural e de província como a minha, filhos únicos eram raros.

A minha avó chamava-me "A morgadinha".
E era verdade. Era a princesa.
Nunca gostei de comer.
Ainda hoje não gosto.
A minha avó fazia sopa de feijão de propósito para mim. Porque eu comia a dela.
Não comia a da minha mãe. Só a da minha avó. Da panela "suja". Porque era feita em cima da lareira, ao lume.
Só dessa.
Comia a "brindeira" (merendeira - era uma bolinha de pão cozida no forno a lenha) com manteiga.
As "brindeiras" eram os mimos da minha avó para os netos.
Quando amassava e cozia o pão, tendia uma bolinhas pequeninas para nós.
Comiamo-las quentes a sair do forno. As dos meus primos com açúcar louro. A minha com manteiga.
Os meus avós "davam-nos" (depois cresciam, iam para a panela e não eram de ninguém) os pintos amarelinhos, quando eles bicavam os ovos para nascer.
Eu escolhia sempre primeiro.
Tive cães e gatos meus.
Uma das minhas gatas pariu no meu quarto.
A minha tia ia sempre chamar-me quando nasciam os leitões. Para ver a porca dar de mamar.
Tive uma ovelha chamada "giribi".
Tive uma ameixoeira de "rainhas cláudia".
Os primos, e os avós, vejam bem, pediam-me "autorização" para as comer.
Tive um "aburunheiro".
Não sabem o que é.
Acho que já não existem.
Era uma árvore que dava uns frutos pequenos, parecidos com ameixas.
Os "abrunhos".
O meu avô nunca a arrancou, mesmo quando ela já estava velha e dava pouca fruta. Porque eu gostava de "abrunhos".

Fui mimada de maneiras que já ninguém é. Porque só nesse local, nessa altura e nesse tempo, faziam sentido.

Não, não tive roupas de marca.
Nem tantos brinquedos que me fizessem esquecer de brincar com o que era importante.
Os primos. A terra. Os animais. Os livros.

Não me lembro de não saber ler.
Lembro-me da minha mãe me fazer ler em cima de um banco para toda a gente ouvir.
Era a "matança do porco" e estava lá toda a vizinhança.
"As mulherzinhas".
Todos me ofereciam livros.
Estudei.


Como sempre e só a côdea do pão. O que irrita sobremaneira o meu marido.
Ao longo dos anos tenho vindo a melhorar, mas ainda dou por mim a tirar o que gosto mais da travessa, independentemente dos gostos das outras pessoas.
Nunca pergunto se alguém quer um bocadito do que quer que seja que esteja a comer. Para mim é perfeitamente natural. Para o meu marido não é.
Diz: "Podias, ao menos ter oferecido". Peço sempre desculpa e ofereço depois. Nunca me lembro de oferecer antes.

Tenho sempre razão. O que ninguém suporta.
Espero sempre que a minha vontade seja feita. Normalmente é.

Não gosto de dividir o meu espaço.
O meu lado da cama.
O meu armário.
O meu lavatório.
Empresto. Sem mágoas. Nem sequer me importo se me estragam aquilo que empresto.
Mas têm de pedir.
Ninguém, e isto aplica-se também às minhas filhas, a quem dou tudo, pode mexer no que é meu, sem me perguntar primeiro.

Preciso de estar sozinha.

Sou encantatória (não encantadora) como todos os filhos únicos que conheço.
Teço a minha teia. Sei quem vai cair.

Nunca viajei mais que quinze dias seguidos.
Se vou de avião só telefono à minha mãe quando aterro.

Nunca fui capaz de ir trabalhar para fora dos limites do Concelho.
Nunca fui capaz de ir estudar "para o estrangeiro".
Tenho sempre medo de não estar "à altura".
De não ser o que esperam que seja.
De falhar.

Por vezes pago um preço muito alto.

Não me queixo.

Cada um de nós tem caminhos.
Estradas.
Bifurcações.
Cruzamentos.
E escolhas.

Tenho dois primos, Únicos, como eu. Muito mais novos.
A minha prima, nada e criada em França. Chegada à idade adulta decidiu voltar.
Os pais ficaram Lá.
O meu primo-irmão-filho, foi-se embora.
Deixou a mãe e foi.
Vem uma ou duas vezes por ano.
Janta e Vai.
Nem sequer ainda me fez "primtiavó", o malandro!

Envelhecer é difícil.
Vejo-me envelhecer todos os dias.

Vejo os meus pais mais velhos todas as semanas.

Espero que Deus não lhes dê a dor de me enterrarem.

Se assim for, vou ser eu a enterrá-los.

Nesse dia.

Nesse dia ficarei só.

A família para onde vamos. A que formamos. É diferente daquela de onde viemos.

Ninguém vai ter histórias para me contar.
Ninguém se vai lembrar de mim quando era bebé.

É por isso que, agora, queria ter um irmão.
Para poder não perder esse espaço de aconchego. De pertença.

Quando isso acontecer, ninguém vai sentir a mesma dor.
Não a vou poder partilhar.
Só partilhamos o que conhecemos.

O Cálice.

Única Escolha.

Única Eu.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Agradecer

Só passei por aqui para vos agradecer o terem vindo visitar-me.
Muito OBRIGADA pelos vossos comentários.
Este blogue, ao contrário do outro, requer mais disponibilidade.
Outras conversas.
Obrigada.
Logo falaremos.
Beijos